sexta-feira, 17 de abril de 2015

Eu apresentei - no Colégio Carlos Côrtes

Estava esperando passar meu momento de desesperança para escrever esse post. Sim, 'passar', porque sempre passa.

Apresentar meu livro para o ensino médio de uma escola pública fez-me lembrar das palestras que assistia, nos congressos de Ensino de Física. Estava eu, de frente para eles, disposta a dividir o meu conhecimento, através de palavras e uma apresentação amadora de slides. Eu tinha muito o que dizer e eu o fiz. Mas, diante deles, me percebi tão igual e me recordei de um passado recente, quando era uma aluna de ensino médio; tal qual eles, tinha dificuldade em lidar com a honestidade - como quando vi a descrença em suas risadas ao ouvir que uma garota branca, com pinta de princesa, recebia um café em sua homenagem pela primeira vez. Não estava zombando ou tentando parecer humilde. Era verdade :)

Ver todas aquelas pessoas, em silêncio, ouvindo cada palavra que saía da minha boca poderia ter-me envaidecido - geralmente as pessoas não param para me ouvir - e uma das pautas que havia levado falava, justamente, sobre o que eu considerava ser alguém na vida: alcançar pessoas que não estavam "por obrigação" em seu círculo social; alcançar o novo. E eu realmente me senti alguém diante daqueles alunos, não somente por ter ouvintes, mas por ter o que dizer. Escrever Café sobre tela me abriu para experiências internas e publicá-lo abriu caminhos para experiências externas. E isto já é um grande ganho!

Agora devo explicar o motivo de minha desesperança: eu depositei muita confiança em meu primeiro trabalho. E, fazendo, novamente, uma alusão a filhos, livros também recebem vida própria e tomam seu próprio rumo quando você decide publicá-los. Pertencem não só a você, mas a editoras e livrarias, cujos interesses podem envolver apenas números e reduzir seu tempo de vida a prazos - e brasileiros não respeitam prazos.

No sábado passado, presenciei um encontro acadêmico, desta vez, na área de História. E tive a infeliz experiência de ver um rapaz novo ter seu trabalho rudemente contestado por uma acadêmica superior em grau. Me coloquei no lugar daquele rapaz e refleti se queria mesmo que o meu trabalho - não-acadêmico - passasse pelas mãos de acadêmicos como ela e se sujeitasse àquele cerco. Obviamente, eu mesma já havia notado erros que uma outra edição trataria de resolver e cheguei a cogitar a ideia de comprar toda a primeira edição para que meus erros não chegassem às mãos dos temíveis acadêmicos. Foi quando eu percebi que publicar um livro estava me trazendo mais preocupação do que satisfação. Se os erros seriam contestados, se os prazos seriam respeitados e os exemplares iriam para a livraria, se as publicações da minha página alcançariam mais do que 14% das pessoas que a curtiram. Se as pessoas procurariam pelo livro e não encontrariam, ou se gerassem expectativa e ele desapontaria. Por fim, se eu conseguiria escrever outro livro antes que resolvesse as questões deste. Muita preocupação acaba com o rendimento de uma pessoa que trabalha com criação, mas o que destrói sua esperança, mesmo, é - quase uma antítese - esperar. Esperar mais de seu trabalho, esperar mais dos outros, esperar mais de si. E você se sente mesmo um nada quando descobre que, enquanto você espera seu livro ser catalogado numa livraria, porque a mesma está enrolando sua editora, o livro de um cantor famoso, publicado por sua editora, magicamente, é catalogado na sua frente. Num país que cultua celebridades, num imenso céu de estrelas, você é um meteorito, prestes a pegar fogo. Mas você acaba esperando, porque quando cruzar a atmosfera, uma hora ou outra, frente aos olhos de alguém, você será chamado estrela cadente.

Para concluir, hoje eu entendi que o meu livro pode ser, sim, um número. Pode ser meu primeiro, pode ser meu uno. Mas está bom assim. Eu continuo escrevendo. Fazendo, mais do que esperando; vivendo, mais do que sonhando. Por hoje, escrever esse texto, dando uma pausa dos estudos, fazendo planos pra viajar, já é um grande ganho :)

Sem ressentimentos,

Ania.

domingo, 22 de março de 2015

Eu lancei. E aí?




O lançamento é a publicação artística do livro. É quando você o apresenta a seu grupo social.

Foi tudo lindo e eu cuidei de cada detalhe; dos marcadores de páginas às etiquetinhas com a data do lançamento, dentro dos sachês de grãos de café torrado. Só estando lá pra sentir o cheiro. Deu um monte de gente bonita, arrumada; um evento social. Qualquer um podia ver a felicidade estampada nas minhas bochechas dormentes de tanto sorrir. Foi assim, mas, e aí?

Havia gente me parabenizando, gente se emocionando por estar presenciando a realização de um grande sonho, gente me perguntando sobre um suposto segundo livro. Mas quando eu retirei minhas coisas da mesa e todas as pessoas foram embora, tive que continuar a guardar o meu verdadeiro sonho dentro das páginas do meu exemplar de Café sobre tela.

Eu voltei à minha rotina de trabalho - um que nada tem a ver comigo - e aos estudos que, embora eu goste, não me oferecem nenhuma perspectiva de mudança. Embora tenha lançado um livro, eu não sou uma escritora. Continuo a ser a-garota-do-caixa, garota-do-café, compra-um-lanche-pra-mim, acabou-o-pó-de-café, atendente-de-telefone, entre outros. Continuo procurando uma hora de sossego do meu dia pra escrever um novo livro, que já habita as páginas da minha mente, mas não consegue existir aqui do lado de fora.

Pior do que não ser, é ser em potencial.

É nisso que tenho pensado ultimamente.

"Essa menina é multifacetada, por isso muda de cabelo desse jeito!" - disse a psicóloga. Ser uma Maria Ninguém já é difícil, imagina ser uma Maria Ninguém com potencial pra fazer muitas coisas! Você acaba fazendo nada. Sendo nada, além de julgada. Você tem que provar pra todo mundo que tem potencial o tempo todo.

"Você não quer se adequar" - ele disse. Não. Não quero. Me lembro de uma produção baseada na vida da J.K. Rowling, onde mostrava sua incapacidade de trabalhar com atividades rotineiras.

"Mas você não é a J.K. Rowling" - eles dirão. Mas a J.K. Rowling já foi uma Mary No One com um sonho. Já foi tachada de preguiçosa, de acomodada, depressiva e disseram que ela sonhava demais. Certo, eu quero ser como a J.K. Rowling. Por que não?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eu publiquei. E agora?

Dos breves anos em que passei estudando Licenciatura em Física, uma lei da natureza que ainda me persegue é o Princípio da Entropia, que diz que as coisas na Natureza tendem ao caos. Não há verdade maior; parece que tudo existente foi feito pra dar errado, de alguma forma. Amaldiçoados são aqueles que, como eu, nasceram para contrariar a natureza com sua mania de perfeição. Um sofrimento.

Ah, os perfeccionistas! Como viver em um mundo onde a gema do ovo não parte quando você quer fazer ovos mexidos, mas desmancha quando você quer fazer omelete? Difícil.

Outra coisa que aprendi com a publicação é um novo princípio que vou chamar de Princípio da Primeira Vez: Na natureza, nada do que é feito pela primeira vez fica bom o suficiente.

Talvez seja um modo de nos ensinar a humildade e a perseverança, ou outra sacanagem dos deuses pra pilhar gente como eu. Enfim, com o meu livro não seria diferente.

Após acertar todos os detalhes da publicação, no fim do ano, minha editora me diz que a Editora não possui revisor ortográfico, sendo o autor, responsável por sua própria revisão. No fim do ano, no brasil, não se encontra ninguém disponível pra revisar um texto e no começo do ano também não. No fim do ano é um pega pra capar, os professores de português estão fechando diários de classe, participando de conselhos, aí vêm as festas de fim de ano, as ruas enchem, as pessoas ficam estressadas e o ano acaba. Em Janeiro todo mundo viaja e os professores tiram férias. Fevereiro inteiro tem um nome: carnaval. Ou seja, não quis atrasar ainda mais a publicação e fiz eu mesma a revisão.

O problema é que dezembro também é uma amostra do inferno pra mim e, mediante provas na faculdade e trabalho em dobro, nas horas que sobravam para eu revisar o texto, estava extremamente cansada. E, de tanto ler, já conhecendo o texto, o resultado foi: pequenos erros de digitação que passaram despercebidos. Quase desprezíveis imperfeições que, de acordo com o Princípio da Primeira Vez, impediram a primeira edição do meu primeiro romance, de ficar ideal. Natureza.

E, bem, a natureza humana também é imperfeita, não é? Eu erro e as pessoas ao meu redor erram, dando a crítica negativa antes da positiva. Mas já dizia a Taylor Swift: "Haters gonna hate".

Um vez publicado, o seu livro vai chegar às mãos de outras pessoas com características que você pode odiar, mas não dá pra voltar atrás. O que está feito, está feito. Tem que dar a cara a tapa, assumir suas imperfeições e lidar com elas. O crescimento vem daí.

Após contar toda a história antes da publicação, não poderíamos falar de possibilidades, mas, se justifica as imperfeições do livro recém-publicado, eu diria:
SE eu não tivesse, diariamente, que escolher entre trabalhar, estudar ou dormir, talvez eu tivesse mais tempo pra escrever e revisar meu texto. SE editoras que possuem revisores ortográficos tivessem me dado uma primeira oportunidade, isso não teria acontecido.

Mas eu cheguei lá, eu publiquei. Agora minhas palavras podem alcançar além dos limites da minha cidade pequena, do meu estado e, até mesmo, do meu país. Da minha insignificância. Agora eu posso me tornar alguém.

Publicar era apenas um ato de coragem

em um daqueles dias de desespero, quando as editoras me deram a graça do desprezo, e já haviam ultrapassado todos os prazos estabelecidos por elas mesmas, me veio a ideia de procurar uma editora em Portugal. A mesma língua, menos dificuldades. Então, encontrei o site da minha editora, que se autoafirmava a maior editora de Portugal, com maior número de publicações.
Surpresa mesmo foi quando, ao clicar no link de "envio de originais", o prazo que a editora dava para uma resposta era de, no máximo, 10 dias. 10 dias! E o melhor, não exigia uma cópia impressa via transportadora (sdds Fedex). Não pensei duas vezes. Enviei meu original e aguardei.
Como já olhava meu e-mail todo santo e dedicado dia, de todos eles, o dia mais feliz da minha vida foi aquele, quando recebi a resposta da editora, dizendo: Queremos publicar o seu livro.

Minhas bochechas coraram, meu coração acelerou e tudo mais que havia sobre a publicação pareceu irrelevante. Eu me comprometeria a comprar uma quantidade de livros e a editora o publicaria no Brasil e Portugal. Eu pagaria! O que fosse! Uma editora me queria, me daria um espaço, uma oportunidade. E aquilo não tinha preço! Foi quando contei a todos que havia escrito um livro. É orgulho mesmo, mas não quis contar até saber que aquelas palavras poderiam mesmo ser um livro; e, pra isso, eu precisaria do aval de alguma editora.

À época, a editora não possuía filial no Brasil e isso tornava as coisas mais arriscadas. Procurei pela ajuda de amigos portugueses e pessoas que já haviam publicado com a editora, para saber se a mesma era confiável. A resposta de um amigo foi: procurei saber, e disseram que não é muito conceituada, pois publicam quase tudo o que mandam. Mas existem, têm uma livraria em Lisboa.

"Publicam quase tudo o que mandam", aquilo feriu um pouco o meu orgulho. Mas quem eu era para poder escolher? Ninguém! Eu não era ninguém, por isto precisaria de uma editora que me desse um primeiro espaço; para me tornar alguém.
Como teria que pagar pela publicação (e mandar o dinheiro pra fora do país), hesitei e insisti na autopublicação.

Alguns meses depois, entrei em contato com a editora, novamente; e, para minha felicidade, uma moça brasileira me atendeu e me informou que a editora estava por abrir um escritório em São Paulo. Mandei meu original uma outra vez, e ela respondeu com uma nova proposta, mais razoável, e complementou com um comentário sobre o livro: onde posso encontrar um Heitor desses?

Com aquele comentário, eu pude acreditar que havia dado vida a meus personagens, que eles haviam gerado empatia em alguém. Naquele dia, eu me tornei escritora. Publicar era apenas um ato de coragem.

Ah, a autopublicação!

Para não dizer que eu não tentei a autopublicação, vamos lá...

Certo dia eu tive uma ideia genial: se eu, simplesmente, autopublicar, vou poder vender para pessoas próximas, mas como vou colocar os livros em alguma livraria? A NÃO SER QUE...

Sim, parecia A IDEIA.

Eu abri um Micro Empreendedor Individual (ou MEI), uma dessas formas de legalização de atividades que o Governo apresentou com uma mão na roda para peixes pequenos. Com seu MEI, você tira seu CNPJ e legaliza a atividade que queira desempenhar e esteja na lista de atividades disponíveis para MEI; e ainda fica isento da maioria dos impostos. Bagatela.

Eu pensei: legalizando a atividade de "edição de livros", vou abrir minha própria editora. Vou revisar meu próprio livro, diagramar, tirar meu ISBN, contratar uma gráfica e, com meu CNPJ, posso negociar com as livrarias. Perfeito. Genial.

Maaaas, outra das barreiras que você encontra numa cidade pequena é a oferta de serviços. Mandei e-mail para algumas gráficas, pedindo um orçamento, não obtive resposta de algumas. Liguei para outra, a maior da cidade, e não poderia ter sido mais desagradável.

- Então eu preciso que você imprima uns 500 livros.
- Mas 500 livros é muita coisa. Pensa bem, quantas pessoas em Friburgo vão ler o livro?
- Mas eu pretendo abrir minha própria editora e oferecer para pessoas de outras cidades. E vender na internet.
- Tudo bem, a senhora que sabe. Quantas páginas tem o livro?
- Em torno de 170.
- Vai ficar caro. 170 páginas é uma quantidade significativa. Se eu fosse a senhora, pra não ficar tão caro, faria 300.

Sabe aquele momento em que você não acredita no que está acontecendo e não pode nem raciocinar e não sabe o que dizer? Quando eu desliguei o telefone, apenas, que eu fui refletir sobre aquilo. Já que não houve como dizer no momento, aqui vai minha resposta para o homem da gráfica:

Meu caro, você não conhece e não leu o meu livro; então, como acha que tem o direito de estabelecer o que me é possível? Como acha que tem o direito de dizer o quanto eu posso pagar ou que dificuldades eu vou ter em vender meus livros? Eu liguei para contratar um serviço e não sua opinião. E você foi péssimo em ambos. Eu te peço pra fazer 500 livros e você me oferece 300? Além de insolente, é um péssimo comerciante; por isso não sai da mediocridade de ser "a maior gráfica de Friburgo". Grande m$#%@!

Obrigada. Estou aliviada.

Procurei por outra gráfica, recebi meu orçamento e pretendia pegar um empréstimo para pagar pela publicação. Valeria a pena. No entanto, outra pegadinha do Governo se mostrou o tal MEI.

Eu perguntei à minha consultora:
- Então eu posso vender os livros na internet, né?
- Bem, com o MEI você só pode emitir nota fiscal dentro do seu estado, portanto, só vai poder vender dentro do Rio.

Acabou. Você tenta legalizar uma coisa e recebe um ticket limitado para negociar apenas no seu próprio estado? É por isso que um monte de gente vive na ilegalidade. Você tem, disponível, uma rede de possibilidades, que é a internet, sem fronteiras, e vem o seu governo e te impõe limites dentro do seu próprio estado. Brincadeira.

Resumindo, o dinheiro que eu gastaria com a autopublicação, para vender apenas no meu estado, eu poderia pagar à única editora que me fez uma proposta: a minha editora, de Portugal. No próximo post, conto a história de como consegui a editora e como consegui, finalmente, publicar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

É preciso ter humildade

Como fui injusta! Culpei nosso país pelos meus problemas e estava ele, ali, me estendendo as mãos!

Era o último dia de inscrição, quando cliquei no link do Ministério da Cultura, que oferecia bolsas de Produção Literária.

Você deveria criar uma conta numa plataforma do governo, se cadastrar (mais uma vez, o "quem é você mesmo?" antecedia qualquer requisito para o envio), explicar sobre o que se tratava o seu, então tratado como, projeto-livro e que relevâncias ele tinha a contribuir com a cultura brasileira. Parecia do destino. O último dia de inscrição era meu, para mandar um projeto que tratava da História do Brasil, da escravidão, da economia de café e as sociedades patriarcais do século XIX. Bastava uma linha para explicar a relevância do meu projeto-livro para a cultura brasileira, mas eu me estendi; desenvolvi cada tópico para parecer clara, mas de forma concisa. Anexei meu original ao Sistema e aguardei. Meu país estava me dando a oportunidade de pagar pela minha publicação, era meu último recurso.

O tempo passava, as editoras ainda não haviam se manifestado e, juntamente à minha saga de checar minha caixa de e-mail todos os dias, havia um sistema pra eu acessar à espera de resposta. Demorou, mas saiu.

Pela n-ésima vez, desde então, eu fui reprovada. Mas, desta vez, estava muito bem explicado o quesito no qual eu falhei: não soube explicar, de acordo com o Sistema, sobre o que se tratava meu próprio livro.

É natural que eu fique procurando justificativas para fracassar. Teorias de conspiração, a culpa é do Governo; ou eu poderia, simplesmente, assumir minha culpa e admitir que, talvez, eu não seja tão boa quanto eu pensava. É preciso ter humildade.
O problema é que no nosso país, a gente não pode confiar no próprio fracasso, pois tem muita coisa envolvida nele. Enquanto eu dependia da misericórdia dos outros para realizar meus sonhos, era obrigada a ouvir, diariamente, aquele firme discurso meritocrático de que a gente chega aonde quiser com competência, determinação e perseverança. De que as coisas dependem apenas disso. Neste tempo de mais de uma ano da minha vida, que dediquei à publicação do meu livro, após esgotar todas as possibilidades que eu tinha de fazê-lo, deixei de aceitar ouvir esse discurso, que é uma mentira, no mínimo, cruel. Fico pensando se as coisas teriam sido diferentes se eu tivesse dinheiro, ou fosse filha de pessoas influentes, ou se, como nos concursos públicos brasileiros, aquela vaga para Bolsas de Fomento à Literatura já não tinha dono. De qualquer forma, meras especulações não me ajudaram a publicar meu livro.

É certo que a gente tem que ter humildade, mas hoje eu tenho um pouco mais de autoconfiança. Ter publicado um livro não faz de mim uma escritora, mas é possível que eu não seja tão ruim quanto esse ramo me fez sentir esse tempo todo.

Eu pago, mas não a você.

Enquanto as três primeiras editoras nem mesmo me davam a honra da recusa, eu vivia entre o "não quero mais publicar essa m*#$@" e "ainda não fui recusada, ainda há esperança". Essa é a pior das partes: você não é assumidamente ruim pra desistir, pois ninguém se comprometeu em dizer isso, mas alimentar esse sonho acaba te matando de fome.
Então eu desisti. Mais ou menos. Peguei meu original impresso, juntamente ao cadastro da BN e aos comprovantes de envio de originais dos Correios e pensei em atear fogo e exorcizar aquele demônio (já não pareciam mais os deuses dizendo "insista, vai ser legal). Mas, E SE, porventura, aquilo fosse mesmo bom? Não poderia acabar, definitivamente com aquilo; seria um desperdício! Droga!
Eu peguei aquilo tudo e joguei em cima do guarda roupas, lugar, diariamente, inacessível, onde você coloca coisas que pretende nunca mais olhar, mas não tem coragem de destruir (tipo fotos e registros de ex-namorados). Também não apaguei do computador os meus arquivos, mas não li mais.
Passei no vestibular pra fazer História e planejei explorar minhas possibilidades estreitas de ascensão social de cidade pequena: fazer faculdade e trabalhar.

Quando pensei estar seguindo a minha vida, eis que o fantasma editorial volta a me assombrar. "eu conheço o dono de uma editora", disse uma conhecida bem-intencionada. Era uma mulher influente, jornalista doutoranda, trabalhava em uma muito conceituada instituição de ensino superior. "Ele é muito meu amigo. Posso te indicar e dar a ele o seu contato". Aquela, afinal, era a minha grande chance! Ganhei uma oportunidade bônus. Iria direto ao dono da editora, direto a Deus! Não poderia dar errado.

A moça jornalista não falhou e, então, entrei em contato com o dono da tal editora. Sujeito agradável, me foi simpático; disse que, naquele momento, estava enrolado, às voltas com a publicação de uma menina de 17 anos, mas que, na próxima semana, leria, sem falta, o meu original. Uma menina de 17 anos! E eu achando que não me dariam crédito por eu ter 21! Aquele era o momento, faltava pouco.

Esperei uma semana, duas, mandei e-mail, mensagem de texto, whatsapp, um rosário e uma ave-maria, e nada. O dono da editora não teve tempo pra ler o meu original. O que eu podia fazer, senão desistir de novo, ocupar minha cabeça com Filosofia, Sociologia e História? O que fazer com essas disciplinas que apuram nosso senso crítico e nos faz entender que o problema não está nas editoras brasileiras, mas no prefixo de "brasileiras"? O problema está no Brasil que não investe em cultura, em igualdade de oportunidades, no Brasil que está sempre dizendo te dar aquela força, mas dá o dinheiro, esperando o troco, que distribui universidades pelo interior, mas só oferece cursos que vão formar profissionais baratos, que vão servir...

Foi aí que eu compreendi. Me disse o Brasil: "Quer ser escritora? Vai ter que pagar". Eu pago - eu respondi - mas não a você.

Foi a primeira chance que me dei de pensar em procurar ajuda fora daqui.